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quinta-feira, março 24, 2011

O Papel do Sonho na Vida/Giovanni Papini, in 'Relatório Sobre os Homens'

O Papel do Sonho na Vida



Por vezes, o homem é mais sincero e rico na desordem dos sonhos que na consciência unitária do raciocinador acordado, mas nós vivemos enquanto negamos o sonho e o tornamos inútil. O génio é a extradição do sonho, porque enriquece a consciência com as reservas e as pessoas do inconsciente. Expulsa o selvagem e o delinquente, destila a sagacidade do louco, adopta a criança e escuta o poeta. Não é autocrata surdo, como o homem vulgar, mas pai de iguais. A concórdia de se terem almas subterrâneas faz a grandeza do génio, e a sua obra é a sublimação do sonho, desenrolado na vida verdadeira, liberdade concedida aos pensamentos inocentes dos reclusos.
Escolher é próprio do homem, mas escolhe-se com a rejeição e mais com o acolhimento. Vencer não significa apenas destruir, mas incorporar. A razão será tanto mais razoável quanto maior a loucura que assumir em si; o herói será mais forte se transferir para si a energia do pecador, e a fantasia do poeta tornará mais profundos os cálculos do político.

Quando o chefe da alma é o poeta, verdadeiramente poeta, não encarcera a razão, mas condu-la consigo para cima, ao céu em que até o silogismo se torna fogo. Quando o vitorioso é o santo, até o ladrão, sob a forma de arrependimento, é elevado ao paraíso. E os espectos, tornados participantes da luz, não têm motivo para recorrer às fantasias nocturnas para se iludirem de que vivem. A vida não é sonho, mas a urdidura dos sonhos pode iluminar e embelezar a trama da vida.

Giovanni Papini, in 'Relatório Sobre os Homens'


(Para assístir ao vídeo não se esqueça de pausar a música no player acima do post).

Não deixe de sonhar - Chimarruts

Ser Feliz/Fernando Pessoa

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver
Apesar de todos os desafios,
Incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas
E se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si,
Mas ser capaz de encontrar um oásis
No recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um “não”.
É ter segurança para receber uma crítica,
Mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou
Construir um castelo ...
Fernando Pessoa

(Para assístir ao vídeo pause a música no player acima).

Rain Drops keep falling on my head

terça-feira, março 22, 2011

A Idade de Ser Feliz / Music Don´t Worry About a Thing


A Idade de Ser Feliz

Existe somente uma idade para a gente ser feliz,
somente uma época na vida de cada pessoa
em que é possível sonhar e fazer planos
e ter energia bastante para realizá-las
a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.
Uma só idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente
e desfrutar tudo com toda intensidade
sem medo, nem culpa de sentir prazer.
Fase dourada em que a gente pode criar
e recriar a vida,
a nossa própria imagem e semelhança
e vestir-se com todas as cores
e experimentar todos os sabores
e entregar-se a todos os amores
sem preconceito nem pudor.
Tempo de entusiasmo e coragem
em que todo o desafio é mais um convite à luta
que a gente enfrenta com toda disposição
de tentar algo NOVO, de NOVO e de NOVO,
e quantas vezes for preciso.
Essa idade tão fugaz na vida da gente
chama-se PRESENTE
e tem a duração do instante que passa.


(Para assístir ao vídeo, pause a música no player acima do post).

Bob Marley Three little birds






segunda-feira, março 21, 2011

A Corrente do Bem

Músic: Calling all Angels
A Corrente do Bem

"No mundo em que vivemos hoje, as notícias de coisas boas são uma raridade, enquanto todos os dias somos bombardeados de informações sobre violências de todos os tipos, realidade catastrófica da perda dos princípios que mantiam a ordem na sociedade; a perda do amor ao próximo e a família.
Nos sentimos impotentes com tamanha dimensão do estrago em que se encontra o nosso planeta.
Mas como vimos neste filme do ano de 2000, não é impossível transformarmos o mundo em um lugar melhor. Existem várias maneiras de ajudar as pessoas, com dinheiro, com boa vontade; um pequeno gesto de carinho. Precisamos recuperar o Amor perdido, pois só o Amor pode mudar o mundo; um amor altruísta, desmedito, desprendido de orgulhos e pré conceitos;
um amor a Deus, a vida e ao próximo... só assim, vamos encontrar um futuro bom, em um mundo melhor. Pode parecer bobagem, para muitos; mas eu acredito que enquanto houver pessoas dispostas a mudar, sempre há uma esperança."


(Para assístir aos vídeos do post não se esqueça de pausar a música no player acima).

A corrente do bem
Objetivo:
"Educar e inspirar pessoas para mudar o mundo"

A Corrente do Bem conta a história de um jovem que crê ser possível mudar o mundo a partir da ação voluntária de cada um. A direção é de Miini Leder (Impacto Profundo e O Pacificador).


FAÇA UM GRANDE FAVOR PARA TRÊS PESSOAS E PEÇA PARA QUE CADA UMA DELAS FAÇA O MESMO PARA MAIS TRÊS. E AS NOVE PESSOAS DEVEM RETRIBUIR PARA MAIS TRÊS.



O professor de Estudos Sociais Eugene Simonet (Kevin Spacey, vencedor do Oscar de Melhor Ator por Beleza Americana) não espera que a turma da 7.ª série deste ano seja diferente das anteriores. Por isso, ele sugere o mesmo trabalho de sempre no primeiro dia de aula, sem maiores expectativas quanto aos resultados: os alunos têm de pensar num jeito de mudar nosso mundo e colocar isso em prática.

Mas o garoto Trevor Mckinney (Haley Joel Osment, indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por O Sexto Sentido e protagonista de A.I. - Inteligência Artificial, o próximo lançamento de Steven Spielberg) resolve levar o trabalho a sério.

Aos 11 anos, ele mora num bairro de classe operária de Las Vegas com a mãe, Arlene (Helen Hunt, vencedora do Oscar de Melhor Atriz por Melhor é Impossível), que trabalha à noite como garçonete numa boate de strip tease, de dia, num cassino e tem pouco tempo para ele O pai (o músico Jon Bon Jovi, que fez a ótima trilha musical de Jovem Demais Para Morrer), então, raramente aparece.
A paixão do professor Eugene inspira Trevor, que cria a corrente do bem. A idéia é baseada em três premissas: fazer por alguém algo que este não pode fazer por si mesmo; fazer isso para três pessoas; e cada pessoa ajudada fazer isso por outras três. Assim, a corrente cresceria em progressão geométrica: de três para nove, daí para 27 e assim sucessivamente.
Eugene, que se transformou numa pessoa de defesas cerradas contra o mundo, vê no introspectivo Trevor uma reedição do seu idealismo de outrora. Os primeiros alvos do garoto são sua mãe e seu professor. Na busca por um pai e um lar estável, ele tenta unir os dois forçando um relacionamento.

Quando Arlene percebe a força do plano do seu filho, ela procura o professor para que este a ajude a compreender Trevor. Eugene, por seu lado, começa a se permitir ser mais aberto também em relação ao garoto, que quer compreender melhor, ainda sem se dar conta dos sentimentos que nutre pela mãe dele.
Enquanto isso, o garoto vai em frente com seu plano e as conseqüências começam a aparecer. Ele dá a um jovem sem-teto (Jim Caviezel, de Além da Linha Vermelha) um lugar para dormir e para tomar um banho. Isso emociona uma sem-teto mais velha, Grace (Angie Dickinson, de Caçada Humana e Vestida Para Matar) e acaba chegando até um jovem repórter (Jay Mohr), que tenta perseguir aquilo que acredita ser uma grande história.
Sem que Trevor saiba, a concepção da corrente do bem iniciada em Las Vegas está se espalhando pelos Estados Unidos.


O que o menino não esperava é que a corrente fosse chegar tão longe, a ponto de um repórter seguir o rastro da corrente até encontrar Trevor. Com objetivo evidente de arrancar lágrimas, A Corrente do Bem chegou ao Brasil com mais uma carta por baixo da manga: cerca de 4% da bilheteria adquirida será revertido às instituições Gol de Letra (de Raí), Ayrton Senna (Viviane Senna) e Doutores da Alegria.

Ponto para a Warner, que encontrou uma boa estratégia de marketing. E ponto, é claro, para quem assistiu nos cinemas. Quem sabe um dia a corrente se torna muito grande e outras empresas cinematográficas resolvem aderir, além de tantas outras empresas onde o dinheiro está concentrado na mão de poucos... quem sabe um dia as pessoas que não tem dinheiro consigam entender que ajudar ao próximo não é apenas dar-lhe comida roupa e abrigo, algumas pessoas sofrem de doenças da alma, que só são curadas com amor, amizade, carinho; E todo o bem que se faz as pessoas, retorna a si, muito maior e gratificante!






Acesse: http://www.correntedobem.com/

Fonte: Terra Cinema
Wikipédia



domingo, março 20, 2011

O sonho/Clarice Lispector

Música: Perhaps Love
John Denver and Placido Domingo
O sonho
Sonhe com aquilo que você quer ser,

porque você possui apenas uma vida

e nela só se tem uma chance

de fazer aquilo que quer.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.

Dificuldades para fazê-la forte.

Tristeza para fazê-la humana.

E esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.

Elas sabem fazer o melhor das oportunidades

que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam

Para aqueles que buscam e tentam sempre.

E para aqueles que reconhecem

a importância das pessoas que passaram por suas vidas.
Clarice Lispector

PARA ASSÍSTIR AO VÍDEO PAUSE A MÚSICA NO PLAYER ACIMA DO POST

The Cranberries - Dreams



segunda-feira, março 14, 2011

A hora da Estrela e Clarice Lispector

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." 
                                                                                                  Clarice Lispector
Para assistir aos vídeos pause a música no player acima do post


Clarice Lispector continua sendo algo estranho e fascinante na literatura brasileira. Dotada de especial sensibilidade, sua preocupação maior nunca esteve no enredo, no linear das coisas. Exigiu, ao contrário, que o leitor se entregasse em meditação à aventura de ler, se quisesse desfrutar da profundidade dos conceitos que se multiplicavam.

A Hora da Estrela
O romance narra as desventuras de Macabéa, uma moça sonhadora e ingênua, recém-chegada do Nordeste ao Rio de Janeiro, às voltas com valores e cultura diferentes. Macabéa leva uma vida simples e sem grandes emoções. Começa a namorar Olímpico de Jesus, que não vê nela chances de ascensão social de qualquer tipo. Assim sendo, abandona-a para ficar com Glória (colega de trabalho), cujo pai era açougueiro, o que sugeria ao ambicioso nordestino a possibilidade de melhora financeira.
Sentindo dores constantes, Macabéa vai ao médico e descobre que tem tuberculose, mas não conta a ninguém. Glória percebe a tristeza da colega e a aconselha a buscar consolo numa cartomante. Madame Carlota prevê um futuro feliz, que viria de um estrangeiro que ela conheceria assim que ela saísse daquela casa, homem louro com quem casaria. De certa forma, é o que acontece: ao sair da casa da cartomante, Macabéa é atropelada por um homem que dirigia um luxuoso Mercedes-Benz e acaba morrendo. Esta é a sua "hora da estrela", momento de libertação para alguém que, afinal, "vivia numa cidade toda feita contra ela".
 Análise


Além da história de Macabéa, encontramos no romance a história de Rodrigo S. M., o narrador, e a descrição do processo criativo (discurso metalingüístico). Rodrigo e Macabéa não fazem parte do mesmo espaço periférico, esta por sua condição de retirante e aquele por ser visto com maus olhos pela classe média e não conseguir alcançar pessoas como Macabéa.
Toda a expressão do texto é para se explicar. Rodrigo acaba priorizando o relato dos recursos textuais a falar de Macabéa, que ironicamente só ganha papel de destaque perto da hora de sua morte. É nesse ponto que compreendemos o significado do título: A hora da estrela é a hora da nossa morte, pois, nesse momento, o ser humano deixa de ser invisível às pessoas, que percebem que ele existe apenas quando já não existe mais.
Clarice adota discurso regionalista em A hora da estrela, algo incomum em suas obras. Através da personagem Macabéa, a autora descreve uma nordestina que tenta escapar da miséria e do subdesenvolvimento, abandonando Alagoas pela possibilidade de melhores condições de vida no Rio de Janeiro. Clarice foi muitas vezes criticada por se afastar da literatura regional emergente do modernismo. Em A hora da estrela, ela foge do "hermetismo" característico de suas primeiras obras e alia sua linguagem à vertente regionalista da segunda geração do modernismo brasileiro. Na época da publicação, o crítico literário Eduardo Portella falou do surgimento de uma "nova Clarice", com uma narrativa extrovertida e "o coração selvagem comprometido com a situação do Nordeste brasileiro".
A hora da estrela é uma obra-prima da literatura brasileira, principalmente, pelas reflexões de Rodrigo sobre o ato de escrever, sua própria vida e a anti-heroína Macabéa.

Contexto e Publicação
Clarice comentou sobre A Hora da Estrela em sua única entrevista televisionada, concedida em fevereiro de 1977 ao reporter Júlio Lerner para a TV Cultura, de São Paulo. Na entrevista, ela menciona que acabara de completar um livro com "treze nomes, treze títulos", embora ela tenha se recusado a citá-los. Ela diz, que o livro é "a história de uma moça, tão pobre que só comia cachorro quente. Mas a história não é isso, é sobre uma inocência pisada, de uma miséria anônima."
Na mesma entrevista, Clarice diz que usou como referência para Macabéa a sua própria infância no nordeste brasileiro, além de uma visita a um aterro onde nordestinos se reuniam em São Cristóvão. Ela diz ter sido neste aterro que ela capturou "o ar meio perdido" do nordestino na cidade do Rio de Janeiro.

Outra inspiração para a trama do livro foi uma visita que Clarice fez a uma cartomante. Na época, ela imaginou como "seria engraçado" se na saída, ela fosse atropelada por um táxi depois de ouvir todas coisas boas que a cartomante previra.
A novela foi escrita à mão em diversos fragmentos de papel, a partir dos quais Lispector, com a ajuda da sua secretária Olga Borelli, compôs a versão final do romance.
 O livro foi publicado em 26 de outubro de 1977, pouco antes da autora ingressar no hospital do INPS da Lagoa, no Rio de Janeiro.



Estudando a Obra

Foco narrativo

Quanto à linguagem, o livro a apresenta fartamente, em todos os momentos em que o narrador discute a palavra e o fazer narrativo. Interessante notar que, antes de iniciar a narrativa e logo após a 'Dedicatória do autor', aparecem os treze títulos que teriam sido cogitados para o livro.
O recurso usado por Clarice Lispector é o narrador-personagem, pois conforme nos faz conhecer a protagonista, também nos faz conhecê-lo. Ele escreve para se compreender. É um marginalizado conforme lemos: "Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar pra mim na terra dos homens". Quanto à sua relação com Macabéa, ele declara amá-la e compreendê-la, embora faça contínuas interrogações sobre ela e embora pareça apenas acompanhando a trajetória dela, sem saber exatamente o que lhe vai acontecer e torcendo para que não lhe aconteça o pior.
Macabéa, a protagonista, é uma invenção do narrador com a qual se identifica e com ela morre. A personagem é criada de forma onisciente (tudo sabe) e onipresente (tudo pode). Faz da vida dela um aprendizado da morte.

Entrevista com Clarice Lispector Parte I
(1977)

A morte foi a hora de estrela.
O enredo de A hora da Estrela não segue uma ordem linear: há flashbacks iluminando o passado, há idas e vindas do passado para o presente e vice-versa.
Além da alinearidade, há pelo menos três histórias encaixadas que se revezam diante dos nossos olhos de leitor:
A metanarrativa - Rodrigo S. M. conta a história de Macabéa: Esta é a narrativa central da obra: o escritor Rodrigo S.M. conta a história de Macabéa, uma nordestina que ele viu, de relance, na rua.
A identificação da história do narrador com a da personagem - Rodrigo S.M. conta a história dele mesmo: esta narrativa dá-se sob a forma do encaixe, paralela à história de Macabéa. Está presente por toda a narrativa sob a forma de comentários e desvendamentos do narrador que se mostra, se oculta e se exibe diante dos nossos olhos. Se por um lado, ele vê a jovem como alguém que merece amor, piedade e até um pouco de raiva, por sua patética alienação, por outro lado, ele estabelece com ela um vínculo mais profundo, que é o da comum condição humana. Esta identidade, que ultrapassa as questões de classe, de gênero e de consciência de mundo, é um elemento de grande significação no romance, Rodrigo e Macabéa se confundem.

Porque ler a Hora da Estrela?
A Hora da Estrela de Clarice Lispector, é um “romance” diferente de todos os já lidos, isso se deve ao fato de a escritora fazer um jogo de personagens, tentando até mesmo se excluir, como narradora, mas que por fim, acaba por se contradizer mostrando realmente quem era, além de narradora, também personagem na figura de Rodrigo (narrador-personagem criado por Clarice); Rodrigo que também as vezes se confundia com Macabéa, personagem criada por ele (e conseqüentemente por Clarice), já que essa (Macabéa) é criada e levada a morte por essa descrição, descrição marcada com uma linguagem que a desfigura e a constrói ao mesmo tempo.

Entrevista com Clarice Lispector Parte II
(1977)

Na verdade, a expressão “romance” supra citada, foi propositadamente posta entre aspas, pelo motivo de que a própria autora, não sabia, ou melhor, não queria, classificar sua obra como romance, ou como novela, enfim, pois para Clarice, não mais importava essa questão de classificação em gêneros, para ela o texto apenas existia, seu encaixe em determinado gênero não iria mudar nada, o que está escrito, está escrito e pronto, cada leitor é que deveria tirar suas próprias conclusões.
Os leitores de A Hora da Estrela podem estar se perguntando o porquê de Clarice ter criado Rodrigo para narrar a história de Macabéa, isso ocorreu porque ela queria narrar de forma distante, sob o ponto de vista masculino, já que se fosse a narração feita por uma mulher, com certeza teríamos um cunho mais sentimental, e não era esse o interesse de Clarice, ela refletia. muito sobre a situação de submissão das mulheres, ela achava que a felicidade só acontecia ao lado de um homem, por isso também a história é narrada por um homem, para que fosse afastada de todo esse sentimentalismo lacrimoso das mulheres, “homem não chora”.

Clarice Lispector, sofria muito com a posição dos críticos, que diziam que sua obra não estava de acordo com o esperado na época. Argumentavam que suas produções não tinham um cunho social, que era o que marcava os textos daquele momento. Na verdade, toda a obra de Clarice não tinha mesmo essa preocupação, ela escrevia e pronto, não procurava escrever sobre o que os outros estavam acostumados a ouvir, ou querendo ouvir. Desde nova, quando escrevia histórias infantis ao jornal de Pernambuco, seus textos não eram publicados, por se tratarem, segundo o editor do jornal, de textos muito fragmentados e complicados.
É relevante pontuar, que a obra de Clarice realmente não é simples de se ler, ela requer uma certa reflexão do leitor, as cenas não estão descritas de forma tão explícita, de modo que não nos leve a uma reflexão mais profunda, no entanto, em A Hora da Estrela, Clarice tentou “retratar” um pouco essa questão social, não de forma tão explícita, mas sim nas entrelinhas. Pode-se notar isso, quando ela, por exemplo, fala do médico, médico de pobres, que como acontece no dia-a-dia odeia o que faz, e as pessoas menos favorecidas têm que se submeterem a esse tipo de serviço, com esse tipo de “profissional” que não está satisfeito com o que faz e com a quantia que recebe.

Entrevista com Clarice Lispector Parte III
(1977)
Percebe-se também, essa questão citada acima, na própria história de Macabéa, que é a história de milhares de nordestinos (pobres), que vem para a cidade grande tentar ser alguém na vida, ocupar o seu espaço, e o que acontece? Nada de novo acontece, vêem e, na maioria das vezes, passam por situações piores do que as que viviam no interior, em sua terra natal.

Se essas pessoas eram pouco importantes, insignificantes onde viviam, serão mais ainda na cidade grande, na capital, onde cada um quer saber de si, onde cada um tem que “se virar”, onde amizade, solidariedade, são palavras que não existem. Essas pessoas passam a ser apenas mais um dentre tantos; são pessoas substituíveis, que tanto faz morrerem ou não, existirem ou não.

Entrevista Clarice Lispector Parte IV
(1977)
É justamente sobre essa questão da inutilidade, do “ser mais um”, que trata o “romance”  A Hora da Estrela, que mostra esse processo de massificação a que todos estamos submetidos. Nessa narração, ou melhor, metanarrativa, a autora quer justamente nos levar a essa reflexão, afinal, quem somos? Para que vivemos? Qual é o nosso papel na sociedade? Será que fazemos falta, ou somos apenas mais um? Somos importantes? Será que no fundo, também não somos uma Macabéa da vida?

Fontes:
Wikipédia,
Mundo que Lê
Vestibuler.blogspot.com
A Hora da Estrela; Lispector,Clarice


Entrevista com Clarice Lispector Parte V
(1977)
Adaptação de A Hora da Estrela para o Cinema
Prêmios: INTERNACIONAIS:


FESTIVAL INTERNACIONAL DE BERLIN - 1986
Melhor Atriz : Marcélia Cartaxo
Menção Especial OCIC

Menção Especial Confederação Internacional Cineclubes
FESTIVAL INTERNACIONAL CRETEIL - 1986
Melhor Direção : Suzana Amaral
FESTIVAL DE HAVANA - 1986
Melhor Filme
ACADEMIA DE CINEMA ARTES E CIÊNCIAS DE HOLLYWOOD - 1986
Indicado pelo Brasil para Competição de Melhor Filme Estrangeiro
FESTIVAL DE CINEMA DOS PAISES DE LINGUA PORTUGUESA AVEIROS - 1988
Melhor Filme

NACIONAIS:
FESTIVAL DE BRASILIA - 1985
Melhor Filme
Melhor Direção : Suzana Amaral
Melhor Roteiro : Suzana Amaral/ Alfredo Oroz
Melhor Atriz : Marcélia Cartaxo
Melhor Ator : José Dumont
Melhor Cenografia : Clóvis Bueno
Melhor Fotografia : Edgar Moura
Melhor Trilha Sonora : Marcus Vinicius
Prêmio da Crítica
Prêmio do Júri Popular
Prêmio OCIC
GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO - 1988
Melhor Atriz : Marcélia Cartaxo
Melhor Direção : Suzana Amaral
Melhor Montagem : Idê Lacreta
FESTIVAL DOS FESTIVAIS DE CINEMA BRASILEIRO DE NATAL - 1992
Melhor Filme - Júri Popular

Trailler de A Hora da Estrela

sexta-feira, março 11, 2011

Um Sonho Possível ( título original: O Lado Cego,The Blind Side).

Musica: I Belive I Can Fly
R. Kelly
Uma Lição de Humildade e Altruísmo,
Um Sonho Possível é Emocionante e Inspirador


Um Sonho Possível ( título original: O Lado Cego,The Blind Side); foi um dos indicados a Melhor Filme no Oscar 2010 Sandra Bullock, a protagonista, arrebatou a primeira estatueta de sua vida como atriz. Ambas as indicações são compreensíveis, já que o filme trabalha símbolos dos Estados Unidos de hoje e a jornada do “yes, you can”.
John Lee Hancock adaptou o livro de Michael Lewis e fez um filme que se estrutura no encontro e no estranhamento entre “eu” e o “outro”. Assim, o mundo de uma mulher, Leigh Anne (Bullock) entra em contato com o do desamparado, Michael Oher
Há uma atmosfera bem criada no filme: o retrato do sul dos Estados Unidos. Lee Hancock fez uma decente contextualização da política atual, na qual os neo-republicanos se colocam como vítimas do preconceito dos Obamistas e dizem sofrer de “racismo às avessas”. Posição reforçada diariamente pela Fox News.

(Para assistir ao trailler pause a música no player acima do post).
O filme chegou aos cinemas sem grande expectativa ou alarde e, aos poucos, conquistou números de bilheteria inesperados para seu gênero e algumas indicações ao Oscar.
Logo nos primeiros minutos de projeção, a decoradora e ex-cheerleader Leigh Anne Tuohy, personagem de Sandra Bullock, explica o título original do longa, um termo derivado de táticas do futebol americano. Como é um esporte tão distante de nosso cotidiano, a explicação se faz pertinente, já que o termo "blind side" servirá de premissa para toda a história: quando um quarterback destro se prepara para um passe, o atacante esquerdo de seu time deve proteger seu lado cego, que seria como o ponto cego de um carro, de um ataque do time oponente.
( Sean Tuohy, Michael Oher Tuohy, Leigh Anne Tuohy)

Esta explicação também já assinala claramente os dois núcleos da narrativa, já que normalmente este atacante tem um porte físico bem definido pela altura e força, características presentes no problemático adolescente Michael Oher, o Big Mike, interpretado na medida certa por Quinton Aaron.
Big Mike é negro, obeso e filho de uma mãe viciada, que não consegue combinar a preocupação de sua próxima dose ao cuidado com os filhos. Marcado pela rejeição, Big Mike cresceu pulando de um lar adotivo para o outro sem nunca encontrar acolhimento verdadeiro. Os vários traumas de sua infância fazem com que ele pareça um grande vazio intransponível.

 Ele finge indiferença e burrice, beirando aparentar deficiência mental - mecanismos de defesa psicológica contra mais traumas. Quanto menos envolvimento ele tiver com o que acontece ao seu redor, menor será a dor.
Sua vida começa a mudar quando seu pai adotivo do momento decide matriculá-lo em uma escola particular cristã. Mesmo sem notas suficientes para acompanhar o currículo rígido do colégio, ele é admitido pela possibilidade de render algumas vitórias esportivas e também pelo argumento cristão da caridade.


No colégio, ele cruza o caminho da família Tuohy, uma típica família muito rica Americana; Leigh Anne é a mãe, rica, mas consciente e de valores cristãos; seu marido, Sean (Tim McGraw), é um ex-jogador de basquete que, ao deixar a carreira por uma lesão, comprou vários restaurantes da franquia de fast-food Taco Bell e vê o dinheiro entrar sem muito esforço; e seus dois adoráveis filhos: a adolescente Collins
 (Lily Collins) e o espevitado S.J. (Jae Head).
Ao encontrar Big Mike sozinho na rua em uma noite fria, Leigh Anne decide simplesmente levá-lo para sua casa e dar-lhe uma cama, comida e basicamente tudo que ele nunca teve: uma família estruturada. Compreendemos o passado sofrido do garoto mesmo sem as cenas de violência, uma vez que as feridas emocionais estão impressas no corpo do ator.

Os Tuohy então o acolhem, acreditam em seu potencial e incentivam seu desempenho nos esportes, pagam uma professora para que ele melhore na escola e, assim, Big Mike vislumbra a possibilidade de cursar uma universidade e jogar futebol americano profissionalmente. Como força motriz deste processo de superação está Sandra Bullock, lutando até quando o próprio Big Mike pensa em desistir. Vemos a atriz em uma performance entregue e evoluída, mas coerente com a carreira que trilhou até aqui; uma boa atuação dramática, mas sem deixar de ser Sandra Bullock.
Com a direção de John Lee Hancock, o filme é tocante, ele é feito para atingir o emocional do espectador. Temos aqui uma história de amor. Não o amor romântico vivido tantas outras vezes nas telonas, mas sim um amor altruísta, que está disposto a se doar ao próximo sem esperar nada em troca. Assim, é compreensível o sucesso que o filme fez nos Estados Unidos, ainda mais sabendo que é baseado na história verídica do atual atacante dos Baltimore Ravens, contada no livro The Blind Side: Evolution of a Game.
(Michael Oher e Leigh Anne)
 Um Sonho Possível encontrou em seu público aquele lado que acredita no Bem maior, mas não tem a coragem de agir com as próprias mãos. Então é mesmo mais fácil projetar em Leigh Anne Toughy as esperanças de uma humanidade caridosa e altruísta e sair do cinema acreditando que realmente é possível ajudar o próximo.


(Para assistir ao vídeo pause a música no player acima do post)

Michael Oher Vídeo















Eu Já/ Clarice Lispector

Música: Wish You Where Here
Plink Floid 

Eu Já...
Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer:
 E daí? EU ADORO VOAR!


Clarice Lispector